quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Viagem: Dia 9 - Ljubljana -> Génova.... ou quase!



Acordei para o dia mais estranho da viagem toda. Um dia não.

Que até começou bem, a experimentar que tal seriam os enlatados de raviolis e afins, mas aquecidos. Têm tendência a saber melhor. Tomado o pequeno almoço, dou mais um pulinho à net, enquanto espero pelo dono do hostel. Podia ter dado de fuga, e poupava €18, mas é aquela base... Estragar a cara por €18 é fatela à brava. Embora o tipo merecesse, era antipático à brava. Mas adiante.

Marca-se destino de hoje provável: Milão. Desta feita, sou capaz de conhecer um bocadito de Itália. Hoje há muito para ver e fazer: um passeio no sul da Eslovénia, à beira mar, uma ida à Croácia, na península de Pula, um saltinho a Piran, ver as vistas, e conhecer Trieste. Dia em cheio, portanto.

Assim, e sem mais delongas, lá vou eu para fora da cidade, em direcção a Sul. Atesto à saída, noutra agradável surpresa que deixa antecipar um dia em cheio: Gasosa a 1.13. apanho sem dar por isso a AE, e reparo nuns sinais, que dizem que os veículos têm que andar na AE com o dístico. Que obviamente não tenho. Que venho a descobrir que é adquirido e que é válido por 6 meses, não há cá aquela cena de portagens. Que obviamente não adquiri, e sujeitei-me, mas felizmente safei-me.

Toda a Eslovénia na parte Sul parece ter as estradas em obras. Ainda bem, porque aquele piso é atemorizante, a mudar, que seja para melhor, que pior é difícil. Salvam-se as vistas, se bem que lá no Norte tinham mais piada.

Volta a dança dos túneis intermináveis em número e em comprimento, chegando a ultrapassar os 3km, vários deles. Sigo para Rijeka, na Croácia, pela nacional, uns bons cento e trocos km. ISto, claro, não sem antes me ter perdido uma boa meia dúzia de vezes, sempre a apanhar a estrada para Itália, em vez da estrada para a Croácia. Umas duas horitas disto, e lá acerto com a estrada.

Porreiro, vou finalmente chegar ao destino inicial. Quer dizer, não é bem, porque o destino era mesmo Dubrovnik, um bom bocado mais abaixo, mas isto também serve. A estrada não é lá grande coisa, fazendo-me ter saudades das estradas nacionais portuguesas, mesmo as do interior. Mas a recompensa de ir à Croácia vai compensar.

Ou não.

Uma placa a indicar o final das fronteiras abertas alarma-me. Mas eu continuo, firme e hirto.

Até chegar à fronteira, onde vejo que estão a pedir passaportes.

Aquele passaporte que eu era para trazer, mas que como estive até às cionco da matina a fazer as malas e que me havia de esquecer de alguma coisa, eventualmente, me esqueci de enfiar na mala.

Não há problema, porque apesar de a Croácia não fazer parte do espaço Schengen, faz parte da UE, portanto só preciso do BI para passar a fronteira.

O BI que não tenho comigo.

Sim, esse.

Assim sendo, digo olá e adeus às belas funcionárias que estão na fronteira, e despeço-me da Croácia, depois de ter entrado lá uns metros para dar a volta e voltar para trás.

Isto começa a não correr lá grande coisa.

E tenho que voltar pela mesma porcaria de estrada, que não há outra. Aquilo de andar perdido e forçado a apanhar a estrada para Itália há umas horas atrás era um aviso, ignorado por mim. Aprendida a lição.

Siga para Koper e Portoroz, tentando ir até Piran, já que Pula berrou. Em Portoiroz, uma espécie de Vilamoura, o pessoal anda sem carolo. Estranho, não tinha visto isso em mais lado nenhum (alcoolizado em Faaker See não conta).

Na Marina, páro para bouer uma bujeca antes de continuar viagem.

Ou tento.

Porque o parvalhão do empregado vai a todas as mesas menos à minha.

Ok, um cigarrito, adeus e um queijo, siga pa bingo. Já falhou Pula, já falhou a cerveja.

E eu devia saber que não há duas sem três.

Ou quatro.

Ou cinco.

Mas já lá vamos.

Direcção a Piran. Ou tentativa de ir em direcção a Piran. Porque as placas a dizer Piran desaparecem, e o mapa não traz Piran, e os eslovenos não falam inglês, nem me sabem explicar onde é Piran. Por isso, desisto de ir a Piran. Isto tá bonito, hoje...

Trieste. Trieste não pode falhar, porra. Saio da Eslovénia, entro em Itália por Trieste, a tal cidade que eu desisti de querer ver, de tão feia que é, de tão suja que é, de tantas obras que tem, faz Lisboa parecer que não tem nada, de tanto trânsito que tem, faz a 2ª Circular às nove da manhã parecer um deserto, de tão confusa que é, com desvios e mais desvios por causa das obras, que me faz perder mais umas horitas a tentar fugir dali. Trieste é muito triste. E só me quero ver livre disto!!!

Hoje é dia...

Quando finalmente consigo apanhar a AE dali pra fora, lembro-me que não atestei onde devia, ou seja, à saída da Eslovénia, com gasosa a 1.13, e páro na estação de serviço mais próxima, para atestar a 1.53. O dia corre muito bem. A fome começa a apertar, e decido ir até às traseiras da estação de serviço deliciar-me com a lata de salsichas com fiambre que trouxe de Lisboa, que farão um belo complemento com o pão que comprei em Marselha, há quatro dias atrás, e o ketchup e a maionese que guardei do McDonald's.

Tão sossegado que eu estava, e arranca o motor da centraltérmica, a fazer uma barulheira infernal.

O pão tem bolor.

Cai-me metade do ketchup nas calças.

A maionese que tanto procurei, encontro-a finalmente... depois de acabar de comer.

A minha faca cai-me no chão e parte o cabo.

A peseira de apoio finalmente deu de si, andava-se a desapertar com a vibração gradualmente, desde a queda em Ljubjana ontem à noite, ficou laça.

Obviamente que não tenho ferramentas práquilo, nem ninguém ali tem, também. Vai remendado com força de braços.

Hoje decididamente não é o meu dia.

Decido que os transalpinos vão ficar para outras núpcias, que a paciência para passear acabou de acabar. Assim, vai de Itália novamente de Autoestrada duma ponta à outra e o mais rapidamente possível, para voltar à minha deliciosa Côte d'Azur.

O que safa o dia é o tempo, não apanhava um dia de Sol assim desde Lleida, e o facto de não ter sido catado na AE eslovena.

O meu indicador esquerdo está dormente há três dias, ininterruptos.

O meu ombro direito dói-me, queixa-se pa caraças, deve ter sido da queda. O joelho esquerdo dá-me umas pontada bem dolorosas na rótula, quando toco com ele em alguma coisa.

Bom, tamos no ir, que já se faz tarde.

Já em cima da moto, preparado para arrancar, a porcaria do motor da central térmica cala-se...

Típico!!!

Siga. Já perto de Pádova, já noite, cruzo-me com o primeiro carro tuga desde Saragoça. É uma minivan cheia deles, que acendem a luz lá dentro, apitam, fazem uma festa do camandro... Deu para alegrar um bocadito a viagem, enquanto seguíamos juntos, até eu parar para reabastecer.

Siga para Milão, onde chego ainda relativamente cedo, e decido continuar.

Sigo para Bolonha.

Só que obviamente, Bolonha não é a direcção que eu quero tomar.

Portanto tenho que voltar para trás de alguma forma. O que acabo por conseguir, não sei bem como, e retomo o bom rumo, a caminho de Génova.

Noutra estação de serviço, decido que apesar de passar por Itália e não comer uma Pizza, não posso passar por Itália sem mamar uma italiana.

E calha-me a sorte grande, ali a italiana até sai baratinha.

E pronto, lá bebi um café depois de tantos dias. Nem era mau de todo.

Cá fora, olho para cima, e acho que é a primeira vez que vejo as estrelas desde que começou a viagem, um céu à noite limpinho.

Decido fazer os tuneis até França de dia, portanto vou parar assim que eles começarem, o que há-de ser algures perto de Génova.

E assim foi. Assim que apareceu o primeiro túnel-viaduto, parei na estação de serviço seguinte.

É uma e meia da matina, e estou a sensivelmente 25km de Génova.

Apesar de todos os contratempos, ou na volta até mesmo por causa deles, este foi o primeiro dia em que ultrapassei o objectivo proposto por mim, que era Milão.

Ainda há mais um contratempo, está um frio do camandro, vou mesmo dar uso à porra do saco-cama, finalmente.

Confortavelmente instalado entre os camiões, aquecido pelo motor da moto.

Hoje fiz 790km, incluindo todos os que andei perdido, e não foram tão poucos como isso.

No total, já vou com 4296km.

Amanhã é outro dia.

O amigo Louva-A-Mim (Deus, portanto) que me fez companhia numa das (muitas) vezes que nesse dia ia parando para apertar à lá páte a peseira. Como tudo o que correu bem neste dia, também o pobre bicho ficou desfocado

Túneis intermináveis na Eslovénia

O mapa meu amigo, que de pouco serviu hoje

Mais uma agradável surpresa, caminho interdito a motos

Em Algures, à beira d'água

Nem as fotos ajudaram hoje, esta que parecia que ia ficar tão porreirinha...

...assim como esta, que tem um ford Mustang lá ao fundo

A minha janta, de aspecto delicioso

Só para não dizer que não tirei nenhuma foto com a moto em Itália

2 comentários:

Xuxi disse...

oh homem mas tu vais me sem identificação??????????????????????
fosganix!!!!

Unknown disse...

Tiveste sorte, meu malandro.
A Croacia não faz parte da UE, logo precisavas do passaporte.
Continuemos a digerir a crónica.