quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Dia 6: St. Tropez - Milão?


Acordar outra vez mais ou menos cedo. Mais menos que mais. O risco de deixar a tralha toda na moto ao relento ontem à noite compensou, cá anda tudo ainda, menos mal! É mesmo só enfiar as mudas de roupa na bagagem outra vez, e arrancar de novo nos cavalos de ferro, para uma estrada velha conhecida e que eu estava ansioso por voltar a fazer já desde há dois anos a esta parte. Uma paragem em S. Raphael, o início da estrada fabulosa até Cannes, para forrar o estômago e para o Matos estender as cuecas na moto a secar, da molhazita de ontem ainda, cafezito, e estamos prontos a arrancar.

A partir daqui, é poesia em duas rodas, que palavras dificilmente podem descrever. A estrada é quase perfeita, e com pouco trânsito. Casas luxuosas intercaladas com bosques, à beira da estrada do lado esquerdo; casas luxuosas intercaladas com bosque e o Mediterrâneo, do lado direito. Curvas fantásticas, nem demasiado largas, nem demasiado apertadas. Piso excelente. Subidas, descidas, falésias, estrada de montanha à beira mar. O cheiro e sabor da brisa marítima e o Sol que nos brinda com a sua chegada fazem o retrato que é complementado na perfeição do preenchimento dos cinco sentidos com o trovejar musical das montadas. São cerca de 40km de viagem pelo Paraíso.

Até chegar a Cannes, em toda a sua pompa e circunstância, do luxo, do ambiente do festival que se faz sentir um pouco pelos dias do ano em que não existe, a marina recheada... e trânsito. Daí a Nice é um pulo, com uma breve paragem para abastecer. Não sem antes reabastecer o depósito de embreagem do Matos uma vez mais, que já começava a falhar. Nice faz-se sem parar, que o objectivo para já é o Mónaco, de passagem.

E é à saída de Nice que as coisas começam a ficar interessantes outra vez. Uma subida íngreme leva à antecipação de novas paisagens de montanha e mar, que finalmente aparecem, com uma vista fabulosa sobre a Península de Ville Franche, e de Monte Carlo.

Mais umas curvas de vistas fantásticas, um túnel no meio da Rocha, trânsito infernal, e estamos no Mónaco. Pára-se à cata de uma lembrancita, e segue-se até à marina, depois de tentar fazer o percurso do circuito de F1, desta vez impedidos pela Polícia. Há dois anos consegui passar, mas é interdito a motos. Passa-se pelo Casino, pelo Palácio, e aterra-se finalmente na Marina, no tasco Bambi, o unico onde dá para parar as motos ao lado, e onde há dois anos paguei €6.50 por uma caneca.

Fico contente por ver que a inflação não atingiu o Mónaco, o preço continua igual...

Refrescadas as goelas, opta-se por um passeio rápido pela Marina, de moto, para espreitar as embarcações, e seguir viagem, a ver se ainda palmamos uns kmzitos de jeito hoje.

Deixamos o Mónaco para trás, e entramos em Itália. Optando por seguir junto ao mar, em vez de fazer a Autoestrada. Itália não conhecia, uma vez que há dois anos me limitei a atravessá-la pela Autoestrada até Faaker See. Entrei num mundo àparte.

Enxames de scooters aparecem do nada, invadem a estrada desorganizadamente, de todos os lados e sem o mínimo sentido de autopreservação. É atemorizante, mas passados uns kms, a malta habitua-se. Todo o resto do trânsito é caótico. Não é com surpresa que se constata que muito raro é o carro que não tenha pelo menos uma amolgadela. Esta gente é perigosa...

A estrada italiana ao longo do mediterrâneo é também engraçada de se fazer, mas em termos de infraestrutura e paisagem é bastante inferior à francesa. E com os condutores infernais, talvez não valha o risco. Mas prossegue-se.

A amiga chuva começa a ameaçar voltar, com uns borrifos, e decide-se parar para abastecer estômagos. Decidimos que o melhor era ir comer na Billa.

Mentes porcas, vocês...

Billa é o Lidl lá do sítio, supermercado. Compram-se uns mantimentos, fazem-se umas sandes, enxota-se um bêbado das motos, engole-se um cigarro sem querer e queima-se a língua, e segue-se viagem junto ao mar.
Mais uns km, começa a noitecer, e a chuva começa a cair um bocado mais forte. Mais uma paragem para abastecer, e considerando qu não vale a pena o risco de andar por estradas más à noite com chuva, opta-se por fazer uns km de autoestrada para tentar recuperar alguma coisa.

Entre as dezenas de túneis e viadutos que fazem o caminho pago até Génova, abrem-se as goelas das motos, gasta-se um depósito de gasolina, e são onze horas quando estamos a abastecer e a pensar que talvez não fosse má ideia, devido às experiências de dias anteriores, procurar um sítio para ficar. Na estação de serviço, perto de Manzone, um italiano que felizmente arranha o francês lá se entende com a Beta e vamos todos atrás dele até ao hotel do amigo, a poucos km dali. Porreiro, hoje safámo-nos rapidamente!

Ou não.

Obviamente que o hotel está cheio... De ciclistas desta vez. Não se perde tudo, atestam-se as gargantas, antes de partir novamente à aventura diária que tem sido encontrar um sítio para dormir.

Mais 20km até à povoação seguinte, e encontra-se um hotel baratucho, com um sinal apelativo: Bikers Wellcome! É mesmo aqui!

Ou não...

Só têm um quarto. E a Denise deixou os óculos no primeiro hotel... Uma camada de nervos até ao dia seguinte na pobre garota, que o hotel já está fechado, e se não os apanhar lá amanhã de manhã, vai ficar vesga o resto da viagem. Uma boa desculpa para fazer estas curvas fantásticas dos Alpes tudo para trás, mas de dia... Obrigado, Denise! Mais 20km para trás, mas são mais 20 que valem bem a pena... Siga para mais uma maratona, em busca do hotel perdido. Para hoje, bem entendido, amanhã lá se trata dos óculos.

Depois de mais uma hora de tentativa e erro, becos sem saída, hotéis que não existem, lá acabamos numa pensão de turismo rural numa terreola perdida no nada.

Despejar motos, verificar se os fatos de chuva estão bem acondicionados e não se molharam com esta chuva toda que caíu, e adeusinho até amanhã, que é outro dia, para tentar recuperar.

Hoje foram uns estonteantes 350km, mas por estradas fantásticas. Muito trânsito fora das estradas fantásticas. Começa a apertar para podermos estar amanhã em Faaker See, e ainda passar por Milão e Veneza...

Mas a malta consegue, consegue tudo!!!

 Água e penínsulas estrada fora

 Moto estendal
 Cannes
 Rolls Royce

 Reparação da embreagem
 Estrada até ao Mónaco







 Bambi

 Monte Carlo

 Itália

 Comer na Billa
 A chuva a ameaçar outra vez


O salvador da noite, que não salvou nada

1 comentário:

António disse...

Amigos, daqui a uns anos vão-se lembrar de todos estes "percalços" com um grande sorriso nos lábios...
Abraço