domingo, 5 de setembro de 2010

Dia 2: Saragoça - Carcassonne?



Ora hoje, segundo o plano, é para chegar a Carcassonne. São só uns kmzitos para recuperar, são pouco mais de 460 até Carcassonne, metade do que fizémos ontem, portanto dá na boa, e ainda dá para fazer umas compritas em Andorra. Basta um bocadito de disciplina.

Pois.

Depois de fazer um escarcéu, em que a Beta cresce (ainda mais) prá gerente do Hotel, que se desfaz em desculpas, por causa da falta de àgua ontem à noite, mas que felizmente já havia hoje de manhã, despedimo-nos do Hotel Lacardierayelaral. Pois, é mesmo esse o nome impronunciável do hotel que vocês não podem esquecer para nunca lá irem parar.

Siga em direcção a Lérida, e mais concretamente, Andorra. A ver se este ano consigo ir ao Museu da Moto, ali a 100km de andorra, que há dois anitos cheguei lá tinha acabado de fechar.

Viagem sem incidentes até lá, com a paisagem já felizmente a modificar-se um pouco, o País Basco efectivamente é um caso àparte. Ah, e placas incompreensíveis em catalão, também... Avistamos ainda do nosso lado esquerdo o resto da familia Ventoinha.

Uma estação de serviço à antiga, numa curva cega atesta-nos as motos. Um barril cheio de água refresca-me as patas e a tola quando mergulho lá dentro. Bem podia ser cerveja...

Motos e mais motos, essencialmente ferros, a vir em direcção contrária, já há uns km, indicam que provavelmente houve práqui um evento qualquer.

Na aproximação a Andorra, voltam as memórias de há dois anos da fantástica estrada de Organya e daí em frente... A memória ainda está fresca, e parece que cada curva é uma recordação recente. Estão lá todas ainda nesta fantástica estrada de montanha a antecipar os Pirinéus. O Tempo está fantástico também, o que ajuda e muito. Curva e contracurva, uns kmzinhos de prazer finalmente, a dar para desenjoar das carreteras espanholas que são tão boas que dão sono. E a paisagem fenomenal, com as escarpas a erguerem-se à nossa beira, os pequenos túneis de pedra, a barragem e as águas mesmo ali ao pé que quase dá para molhar a mão enquanto se anda estrada afora.

Até chegarmos a Andorra, com as estruturas brutais, em beleza e organização das ruas e casas. Directamente ao Bar L'Amic, onde há dois anitos também tinha matado saudades de uma mini e de um bom café português. Ainda consegui encontrá-lo à primeira, ainda lá está o sinal luminoso da Super bock a iluminar esta estrangeirada toda e a mostrar o que é bom.

Isto já se começa a fazer um bocadito tarde, são umas 3 da tarde. Já num há nada para almoçar, mas oferecem uns pratitos de fiambre, queijo, presunto, que com o pãozito que trouxemos de Elvas sabe que nem ginjas, acompanhado pela bela da mine.

Despedidas, não sem antes o Matos marcar território com um autocolante do MCA, em que o dono diz que fica melhor espetado ali à beira da montra,  e ala para os armazéns Pirinées, onde supostamente tudo é maibarato.

Afinal não é.

Anda tudo ela por ela, os tempos são outros, as cousas já não são o que eram. Acaba-se por não se levar nada. Só o tabaco é que continua a compensar e bem, apesar do problema de só se poder levar 2 volumes por pessoa.

Eu resolvo levar onze. Se for catado, logo me desnrasco. Há também o problema de que na moto não cabe nem mais um pintelho, problema esse que fica rapidamente resolvido com os brindes que vêm com o tabaco: mochilas. Todos os cães têm sorte...

Ala prás motos que está a ficar tarde, e hoje ainda temos uns kmzitos a fazer até Carcassonne. Ainda antes de arrancar, a bófia reclama com a moto do matos no meio da rua, nada que um " a gente já tá de saída, jovem!" incompreensível prá gaja (a bófia) não resolva. Decide-se seguir para fora de Andorra por fora, para apanhar as curvinhas da Serra, em vez de ir directamente pelo túnel até Paz de La Casa. À saída de Andorra-la-Velha,  já em Soldeu, para-se numas bombas para atestar, mas decide-se uma coisa muito esperta, que é aproveitar a gasolina barata deste Principado sem Príncipe ao máximo, e apesar de as motos estarem já a entrar na reserva,  decide-se continuar em frente e só atestar mesmo à saída.

Tá-se mesmo a ver no que isto vai dar, não é?...

Corajosamente atravessa-se Soldeu, e faz-se o caminho pelas montanhas, fantástico, cheio de curvas apertadas, em direcção então a Paz de La Casa. A estrada sinuosa e íngreme faz-se ao som da música trovejante das motos. A paisagem é fabulosa, e sobe-se até ao ponto mais alto com um sorriso nos lábios. A partir do momento que se começa a descer, desligam-se as motos, vai-se deslizando,  e ouve-se só o barulho da natureza. Fantástico, ainda não tinha andado de moto assim, não tantos kms... uma experiência nova.

A meio da descida, está a estação de serviço que eu procurava, onde abasteci há dois anos ao preço da chuva.

Fechada. Fechada?! Que raio, mas que horas são? 18? 19, cá. Tão cedo? Será que já faliu? Siga até à próxima. Desce-se mais um pouco, e encontra-se outras bombas. Tá lá alguém, porreiro. Alguém que à nossa aproximação foge a sete pés e se enfia dentro da loja da estação de serviço. É uma mulher aparentemente apavorada com duas motos, que da protecção da porta trancada, informa que a bomba está já fechada, e antes que possamos implorar para abrir aquilo, refunde-se para o fundo da loja e barrica-se debaixo dumas escadas. Porreiro. Siga mais um pouco até Paz de La Casa, que lá hão-de haver umas bombas, porra.

Chega-se à vila, dá-se uma volta à procura. Nada. Num largo, enquanto o Matos fica para trás, chego-me a um casal que vai a atravessa a rua, e em portunhol chamo-os a ver se me dão uma ajuda. Resposta imediata do macho:

    - "EH, TUGAS, CARALHO!!!"

Boa! Excuso de me tentar desenmerdar em estrangeiro. Pergunto onde é que há umas bombas. Resposta imediata, dita em câmara lenta, com um sorriso aberto:

    - "TÃO FO-DI-DOS!!!"

Já menos vernaculamente, lá me explica que ali naquela terra esquisita todas as bombas fecham às sete da noite, e que se quiser continuar para França, arriso-me a não encontrar nada durante vários km, e se encontrar, a esta hora, é praí a €2 o litro, e isto com sorte.

Boa. Agradeço e despeço-me com um sorriso amarelo em resposta ao sorriso rasgado do casalinho feliz. Ouço a chamarem-me, e é o Matos, um pouco mais atrás, a falar com um carro da Polícia. Ou com o condutor, porque o carro não falava. Aproximo-me, e constato que a conversa decorre na língua de Camões, dos dois lados, sendo que de dentro do carro saía um sotaque transmontano. A explicar, não tão com linguagem vicentina como o outro macho do casal,  também, que gasolina ali àquela hora era bastante complicado. Mas que ele conhecia os donos das bombas ali um bocado para trás, ao início da Serra, e que se ainda lá estivessem, podiam dar um jeitinho. Com a moto do Matos quase a vapores, lá seguimos atrás dele até às bombas. Como é lógico, já não estava lá ninguém. A ver a nossa vida a andar pra trás, recorremos à ultima solução. Uma vez que com o depósito novo, maior, a minha moto leva mais gasolina cá dele, saca-se um bocado de mim pra ele, com uma mangueirita que ele inteligentemente trouxe. E é aí que entra na conversa o bófia Paulo lá de Trás-os-Montes, já à boa portuguesa e vicentinamente:

    - "Não tires daí da moto. Tira aqui do carro"

As nossas expressões de espanto e descrédito foram complementadas com uma pergunta minha, a questionar se ele estava a dizer que devíamos tirar gasolina do carro da Polícia.

Um "Que se foda, o carro não é meu" bem vincado retirou-nos todas as dúvidas, e aproveitámos a generosidade da solidariedade lusitana para meter uns litros sugados do carro da Polícia andorrenha. Despedimo-nos do Paulo, e decidimos que talvez o melhor mesmo seja voltar em direcção a Andorra-la-Velha e ficar num daqueles quartos a €30 que vimos em Soldeu, amanhã é outro dia. Encontramos um restaurante português e é mesmo ali que vamos para o repasto final deste diazito meio atribulado, mas sempre bem disposto.

Somos recebidos com pompa e circuntância no Restaurante Can Pep, em Soldeu, com umas canecas e ums entradas de enchidos do melhor. Pedimos umas febras na brasa, mas a cozinheira insiste em que escolhamos as costeletas, uma vez que as febras ficam muito secas. Agradecemos, mas insistimos nas febras. A travessa com a comida vem, farta. Batata arroz, febras e... costeletas. Seja. Repasto, dois dedos de conversa com os donos, o Matos busca a garrafinha de ginja caseira e espeta-se uma bubadeira aos donos. Umas bifas na mesa ao lado, curiosas com aquelas bolinhas vermelhas, quiseram também provar. E sairam de lá de rastos. Bendita garrafita!  Entretanto, quase uma da manhã, e o dono oferece a casa que tem para alugar para passarmos lá a noite, por uns generosos €60. Porreiro, assim nem mexemos mais nas motos, bem guardadas nas traseiras com a pick up do estalajadeiro a fazer de portão, e com a garantia de que ali ninguém rouba nada.

Mais um whisky, que a ginja já acabou, já nem sei em quantos vou, e conta. €20 a cada um, saíu bem em conta, contando o local, o que comemos e o que bebemos. a repetir, num eventual regresso, pela qualidade da comida e pela simpatia dos donos.

É deitar que amanhã é outro dia. Combina-se acordar cedo, que hoje devíamos estar já em Carcassonne, e em vez dos 460km que éramos pa ter feito, ficámo-nos por 290km. Não foi mau. Amanhã há-de ser melhor. Acordar cedinho, e com um bocado de sorte, passar Carcassonne e recuperar alguma coisa.

1140km no total até agora, não tá ainda assim muito mal.

Ênfase no ainda.

 O Hotel dos horrores

 Apresentando o resto da família
 O Matos foi durante toda a viagem um grande apoio...
 As gajas
Isto é Photoshop, concerteza...
 A meio do Deserto


 Reabastecer
 Refrescar a pata
 Refrescar a outra pata
 Refrescar a tola
 Porra, o barril não era de cerveja...
 Museu da moto, por aí abaixo









À entrada do Museu da Moto
 À saída do Museu da Moto - Os Pirinéus ali tão perto, já
 Mais perto ainda
 A estrada de Organya



 O amigo do L'Amic
Os Pirinéus, finalmente
 Estrada para Soldeu

 Serra para Paz de La Casa

 O Bófia Paulo, o nosso salvador
 Os gajos da Harley
Os gajos da Yamaha

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