
Não vou mentir-te.
Os meus braços são pequenos. Não podem proteger-te do Mundo.
Quando cresceres, vais achar que és muito magra, ou muito gorda. Muito baixa, ou muito alta. Vais achar que ninguém gosta de ti.
Vais marcar um encontro com o giro do liceu e vai aparecer-te uma borbulha nova nesse mesmo dia.
Vais pensar que os professores embirram contigo, ou que todos te acham nerd.
Vão oferecer-te tabaco e outras coisas, e vais querer experimentar para parecer “fixe”.
Vais ter amigos. Vais perder amigos. Vais apaixonar-te. Vais desapaixonar-te.
Vais revoltar-te. Vais afirmar que ninguém te compreende.
Vai querer ser livre. Vais achar-te adulta antes de o seres.
Vais chegar tarde a casa. Vais escrever mal de mim num diário abonecado ou pior, num blog.
Vais discutir, pensar, gritar, dançar, amar, odiar, rir e chorar.
E eu não vou impedir nada disso.
Na tua vida, filha, quero que ames, quero que rias, quero que penses e quero que chores.
Não quero que tudo seja fácil para ti. Quero que dês valor a tudo que alcançares.
Quero que descubras o valor da amizade, do amor, da saúde e da vida.
Quero que lutes pelos teus ideais.
Eu não posso proteger-te da dor, mas quero ensinar-te a superá-la.
Não posso proteger-te da revolta, mas quero mostrar-te como enfrentá-la.
Não posso dizer-te o sentido da vida, mas ajudo-te a procurar.
Não posso fazer com que todos gostem de ti, mas posso gostar de ti por muitos.
Hoje fazes um ano, e o teu maior problema é meterem-te na cama quando não queres ir dormir.
Por agora, é assim.
Mas quando precisares de mim para algo mais do que isso, eu estou aqui.
Amo-te.