terça-feira, 27 de abril de 2010

Recordar é Viver: A Portagem

Prelúdio da viagem para Jerez, em 2006

À procura de um pneu para trás na HD, que a lona já me estava a dizer olá há algum tempo, e com a chuva que ameaçava chatear o fim de semana inteiro, não era lá muito apetecível.

Margem sul, na minha busca, sem sucesso. à vinda, a aventura nas portagens. Ao pagar, vê-se uma moeda no chão. Porreiro, menos pobre. Apanha-se, paga-se os €1.20 da portagem da ponte Salazar e espera-se pelo som da abertura da cancela. Em vez disso, ouve-se um som vindo de um orifício na borbulha cheia de pus que a portageira tinha em cima do pescoço: "Faltam dez cêntimos, sim, esses que você apanhou aí do chão, que eu bem vi!!!" Incrédulo, e com uma tentativa algo falhada de conter o riso pela estupidez do berro da mulher, viro-me para ela, e respondo que não dou, é meu, eu vi, apanhei. Ponto final. Ela recusa-se a abrir a cancela enquanto eu não lhe der os dez centimos. Eu recuso-me a dar-lhe os dez centimos. Ela diz que eu não saio dali enquanto não lhe der os dez centimos. Eu digo-lhe que tenho todo o tempo do mundo, não tenho pressa, nem lhe vou dar os dez centimos, e explico que é só pela aberração da forma como falou comigo. Ela continua sem abrir a cancela, e ameaça chamar a brigada. Eu peço-lhe por favor para ela o fazer. Fecha a janela. Segundos depois, abre a janela, com um berro: "Dê-me os dez centimos!!!". "Não dou". "Dê-me os dez centimos!!!". "Não dou". Fecha a janela. Abre a janela. "Dê-me os dez centimos!!!". "Não dou". "Vou chamar a brigada!!!". "Já cá devia estar". Fecha a janela. E nos entretantos, um objecto reluzente no chão, cor de cobre. Um centimo. Apanho o centimo do chão, e bato à janela. "Olhe, já não são dez, já são onze". "Dê-me os meus onze cêtimos!!!". Uma gargalhada ainda mais incrédula com uma resposta: "Não dou, e daqui a pouco já estou a achar uma nota de cem, isto está a correr bem...". Fecha a janela, com mais um ameaço de chamar a brigada, e eu a pedir-lhe por favor para o fazer. Entretanto, os carros atrás fartaram-se de estar ali a apitar e a barafustar, e resolveram mudar de faixa. Ela abre então a janela, e diz-me que vai sair dali, já que eu não lhe dou os onze centimos, e vai para outra cabine, dizendo-me para eu fazer o que quiser. Quando ela sai da cabine, eu digo-lhe que pode ir para onde quiser, mas que não sai dali sem fazer uma de duas coisas: abrir a cancela ou devolver-me o dinheiro da portagem. Volta para dentro da cabine. Abre a janela. "Dê-me os onze centimos!!!". "Não dou. E pelos vistos, quanto mais tempo fico aqui, mais rico fico. Chame lá a brigada". Fecha a janela, e fala com o intercomunicador. Deduzo que estaria a chamar a brigada. Deduzo também que a brigada lhe deve ter dito para ela tomar os medicamentos e largar a droga, porque passados 30 segundos, abre novamente a janela: "Dê-me os onze centimos!!!". "Não dou". E responde que eu não tenho vergonha nenhuma, ao que eu respondo que ela é que não tem vergonha de não saber ser educada com as pessoas, o que a ter sido feito, tinha evitado esta chatice e ainda lhe tinha feito ganhar onze centimos. Ela abre a cancela. Liberdade, com um largo sorriso triunfante na cara.

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